1.020 ESTRELINHAS NO FIRMAMENTO


Era uma vez… o Xavier. Um petiz de 10 anos e uma família que o adora e que o mima todos os Natais com muitos presentes, muito carinho, muitos beijos. Como tantas outras crianças, o seu dia-a-dia divide-se pela rotina casa/escola/casa-dos-avós/casa, excepto nos fins-de-semana, quando pode dormir até mais tarde e ficar o dia todo a brincar! “É ‘munta’ fixe!” – diz, exibindo um enorme sorriso de satisfação. 

Brincar! Tal como nos anos anteriores, o Xavier está eufórico! O Natal está aí mesmo à porta e ele tem sido um bom menino, sonhando com uma árvore cheia de presentes embrulhados em papel e laços coloridos, escondendo verdadeiras surpresas, mesmo as que ele se esqueceu de por na Carta ao Pai Natal! 

“Esquecer”…! Um verbo que em determinadas condições pode mostrar-se cruel, mortal e destruir todo um conjunto de sonhos, planos, projectos... vidas! Como? Quando os adultos, que transportam crianças no interior de veículos, se ESQUECEM do modo correcto de o fazer, ou – ainda pior do que isso – cometem ERROS CONSCIENTES, assumindo a velha máxima de que “é só uma viagem pequena, daqui até ali!” Só que por vezes nunca se chega “ali”, ficando este a uma distância inatingível…!

Vem o acima a propósito da mais recente conferência da APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil, sob o título de “Segurança Rodoviária Infantil: o que mudou em Portugal?”. Teve lugar a 20 de Novembro – “Dia Europeu de Segurança Rodoviária” – em Lisboa e incidiu sobre a evolução da sinistralidade rodoviária com crianças e jovens no nosso país e nas medidas entretanto adoptadas, entre outros temas.

Foto: APSI

Muito mudou por cá – felizmente para melhor – em termos de segurança rodoviária infantil desde que se adoptou a “Convenção dos Direitos da Criança”, mas esse “melhor” não chega, pois os acidentes continuam a ter um peso e um impacto significativo na vida e qualidade da mesma de crianças e jovens, com reflexos nas respectivas famílias e amigos. 

Nada menos que 12 crianças sofrem diariamente um acidente de viação em Portugal, uma estatística estupidamente grande mas que, ainda assim, representa uma redução para quase metade dos casos registados anteriormente. 

Mas é assustador que em 13 anos (de 1998 a 2011) um total de 1.020 crianças tenha perdido a vida, enquanto 84.500 outras ficaram feridas, com diferentes níveis de gravidade. 

O primeiro triénio de estatísticas fidedignas da ANR - Autoridade Nacional Rodoviária (1998-2000) regista uma média de mortes de crianças por mês nas estradas superior a onze, para uma década depois, no triénio 2007-2009, ser de pouco mais de três por mês. Já entre 2010 e 2012, ainda sem contabilizar os números do presente ano, a fria estatística aponta para uma média inferior a duas crianças que perderam a vida por mês. 

Frios números que se registam nas primeiras 24 horas após os acidentes, sendo recente a contabilização das vítimas falecidas até 30 dias depois das ocorrências. Neste contexto, entre 2010 e 2011 morreram, no conjunto, não 21 crianças iniciais, mas sim 35, com 14 outras a falecerem posteriormente fruto dos graves ferimentos sofridos! 

Já o número de feridos caiu de 8.775 crianças para 4.488. Praticamente metade, mas ainda assim, estragos por demais elevados por erros que, na quase totalidade dos casos, não se lhes atribui. O grupo mais preocupante é o dos 15 aos 17 anos. 

Na sua infindável e incansável tarefa de protecção dos mais jovens, a APSI alerta para o uso dos sistemas de retenção de crianças, vulgo “cadeirinhas”. O estudo realizado refere que 15 em cada 100 crianças viajam sem cadeirinha, fazem-no à solta ou ao colo de adultos em auto-estrada, antecipando-se uma tendência para pior em percursos em ambiente urbano! Quase metade das cadeirinhas eram desadequadas à idade/peso/estatura, ou estavam mal montadas e/ou fixas ou colocadas nos lugares ‘errados’! Deveras assustador e por demais preocupante da educação e sensibilidade das pessoas neste domínio!

Foto: APSI
Com o acima exposto, pretendo apenas que, nesta quadra Natalícia e de Ano Novo (bem como na totalidade dos restantes dias de todos os anos vindouros) olhe com mais atenção para quem transporta no interior do seu veículo, nomeadamente os mais jovens. Como passageiros, como peões ou nas deslocações em viaturas (motociclos, bicicletas e afins) tente assegurar que tudo se faz de um modo correcto. Claro que não podemos andar com eles “ao colo” eternamente, mas há pequenos nadas que fazem a diferença!

Ah sim… para terminar a história: ficarão decerto satisfeitos em saber que o Xavier tem uma família consciente, uma cadeirinha adaptada à sua idade e correctamente instalada no assento certo do carro, contribuindo para que ele possa continuar a sonhar com a Magia do Natal 2012! (Psst!!! Não lhe digam nada, mas parece que o velhinho de barbas brancas vai ter alguma dificuldade em fazer passar uma certa bicicleta pela chaminé lá de casa! Shiiiiiu!!!) 

Festas Felizes! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve! 

José Pinheiro 

PS: Este texto é dedicado a todas as 1.020 Estrelinhas acima que hoje brilham no firmamento, bem como a todas as outras que, entretanto, se lhes vão juntando… 

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

9 comentários:

Ana Marcelino Cruz disse...

TiZé, infelizmente a crueldade destes números fazem-me imediatamente lacrimejar de "pena... que pena!!! Pobres crianças sem culpa alguma!!!" mas também de raiva, sentimento que gosto pouco de ter.
Porque não acontece só aos outros e porque também temos de ter MUITO cuidado com os outros, a consciencialização começa em casa.
Meninos vão atrás, devidamente acondicionados nas cadeirinhas em conformidade com peso/altura/idade INDEPENDENTEMENTE do TAMANHO da BIRRA! Ou do trajecto a percorrer!

(isto dá-me a volta ao âmago, a guerra civil que é andar nas estradas nacionais...!!!)

Unknown disse...

Estou zangado contigo, não tornas a fazer-me chorar, TÁ!!!!!!!!!!!!
Triste realidade a nossa que optamos sempre pela solução mais fácil e de recurso ao invés de pensarmos no futuro.
Eu não como pai, mas como tio, confesso que tenho alguma dificuldade em escolher, colocar a dita cadeirinha.
Recordo-me que aquando da compra da dita, me vi a "googolar" para tentar perceber o porquê da tão GRANDE oferta e uma tão GRANDE variedade de preços.
Depois a dificuldade maior foi tentar perceber como tal objecto seria fixado ao banco do carro.
Fico sempre com a eterna dúvida que aquilo não se encontra bem preso, e confesso, mesmo sabendo que a cadeira está bem fixada, o credo na boca está sempre presente em qualquer viagem e o olhar pelo espelho retrovisor é permanente.
Abreijos

Unknown disse...

Bonita homenagem às mais de 1000 estrelinhas que por descuido dos graúdos estão hoje no firmamento. Espero que o post (muito bem escrito como de costume) sirva para alertar os transportadores dos mais pequenos e evitar que mais estrelinhas brilhem no firmamento por estes motivos.
Mais um post muito trendy sobre o universo das wheels ;)

José Pinheiro - Trendy Wheels disse...

Sempre um tema difícil face às alarvidades que vemos acontecer dentro de alguns carros. Facilitismo definitivamente não!
Obg AMC
JP

José Pinheiro - Trendy Wheels disse...

A oferta no mercado é, de facto enorme, entre marcas mais ou menos conceituadas e outras mais 'generalistas'. Há q ter em atenção um nº de detalhes, das homolgações das ditas às idades/pesos a que se destinam, modos de montar, direcção da mesma, etc. É quase um curso, mas q compensa no final qdo tudo corre bem!
Obg Jorge
JP

José Pinheiro - Trendy Wheels disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Pinheiro - Trendy Wheels disse...

Sim Gil, é uma pequena homenagem q gostava pudesse ter um título com um número substancialmente mais reduzido! Espero mto sinceramente q este 'alerta' funcione, nem que seja p se salvar uma vida!
Obg
JP

Anónimo disse...

Muito bem Pinheiro! Nunca é demais relembrar este tema. Acredito que um dia o grau de sensibilização será bem maior e esses números assustadores reduzirão substancialmente. Este e outros blogues darão um importante contributo.
AC

José Pinheiro - Trendy Wheels disse...

Olá AC, boa tarde.
De facto, a Segurança Infantil é algo que tem que estar SEMPRE presente na mente de todos nós. Quanto mais não seja porque um dia, os agora protegidos serão responsáveis por fazer o mesmo às gerações seguintes!
Quanto à importância dos blogs e do nosso Trendy Mind em particular, agradeço desde já essa consideração. Decerto ajudar-nos-á a evoluir e a crescer!
JP