Se há situação deveras assustadora é nascer-se com uma qualquer limitação ao nível dos sentidos. Pior ainda são os casos em que tal ocorra durante a vida de uma pessoa, devido a uma qualquer rasteira de saúde ou outra situação imprevisível. Para mim e apesar de achar que todos os nossos sentidos são importantes, o que mais me arrepia é o campo da visão, ou a falta dela. E há tantos disparates que fazemos ao longo das nossas vidas em termos da falta de cuidado para com os olhos, isto para além das problemáticas situações de saúde que, a partir do nada, nos caem ao colo, mudando o modo como vemos a nossa vida.
Enfim… desgraças à parte, aplaudo uma acção recente levada a cabo no país vizinho pelo RACE (Real Automovil Club de España), a ONCE (Organización Nacional de Ciegos de España) e a SEAT, ao colocar um grupo de invisuais ao volante de um automóvel.
“Conduzir Uma Ilusão” foi o nome dado a este singular programa que, na em estreia absoluta em termos mundiais, colocou um grupo de 60 pessoas totalmente cegas ou com um elevado grau de deficiência visual ao volante de uma viatura, permitindo-lhes a condução, com a ajuda e indicações de um monitor especializado, sentado no banco do pendura. Claro que tal se fez num ambiente controlado, num autódromo nos arredores de Madrid, longe do tráfego real daquela urbe gigantesca, mas a acção, só por si, merece todo o destaque.
A alegria é perfeitamente visível nos rostos destes condutores improváveis, que assim cumpriram uma ilusão, um sonho irrealizável. “Estou feliz. Quero agradecer à SEAT e ao RACE por nos ter dado esta oportunidade. Pude, finalmente, sentir o que é conduzir um automóvel. Nunca pensei que o pudesse fazer na minha vida e fiquei encantada. Agora entendo as pessoas que gostam de estar ao volante de um veículo e os apaixonados pela velocidade”, afirmou uma das condutoras no final desta experiência.
Conduzir é, para a grande maioria, algo perfeitamente natural e rotineiro, mas praticamente impossível para um cego… até agora! Amantes de desafios, disseram “sim” ao convite e encontraram-se com um grupo de monitores especializados que os acompanharam e ajudaram ao longo do processo. A SEAT disponibilizou várias unidades do modelo Leon com caixa de velocidades automática DSG e equipadas com diversos equipamentos de segurança e de ajuda à condução, como o sistema de ajuda à manutenção de faixa, controlo de velocidade adaptativo, estabilidade e ABS, entre outros. O programa começou com briefing, onde se explicaram aspectos de segurança e normas a seguir, para depois, já sentados nos carros, se adaptar cada um dos participantes à posição de condução, havendo um primeiro contacto com o volante e com os pedais, explicando-se alguns truques para evitar acelerações e travagens bruscas.
Fotos: Seat, Once e Race |
Findo esse processo, os condutores saíram para a pista com os respectivos monitores ao seu lado, sentindo-se pilotos por um dia, sentindo-se absolutamente seguros e totalmente concentrados nesta nova e, decerto, inesperada experiência, a condução de um automóvel. Uma vez adaptados ao carro e ao traçado que não viam – apenas o sentiam, com a adrenalina a bombar de felicidade – alguns não se coibiram de atingir velocidades em recta na ordem dos 100 km/m! Sei que, eventualmente, não será muito para si que lê este texto, mas foi algo estonteante para estes condutores!
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
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