Era uma vez a Postura Corporal…


Abundam pela internet e publicações escritas, os artigos que falam de postura. Qual a mais correcta, truques para a melhorar, como evitar uma má postura, e um outro sem número de questões. É um tema sempre actual, sobre o qual há imenso para falar, e ter um conhecimento alargado sobre ele tem mais influência nas nossas vidas do que possamos imaginar.

Mas afinal o que é ter má postura? E como as identificar? Haverá uma postura normal? E porque é assim tão importante compreendermos a nossa própria postura corporal?

Mostra-me a tua postura, dir-te-ei o que fizeste 

Como bem sabemos, e cada vez mais (felizmente) é difundido pêlos meios de comunicação social e não só, a qualidade e a quantidade dos alimentos que comemos, e o momento em que o fazemos, influência largamente a nossa saúde e aspecto. Do aumento de massa adiposa (vulgo gordura), à obesidade, passando pela dependência do açúcar e doenças cardiovasculares, como bem referido há algumas semanas numa reportagem da SIC amplamente aclamada, nós somos aquilo que comemos. 

Similarmente, o tipo de funções que desempenhamos no nosso trabalho, o desporto que praticámos vários anos enquanto jovens e o exercício que fazemos hoje em dia, a forma principal de nos deslocarmos para os sítios que frequentamos (sentado nos transportes ou a pé), hobbies, cuidados específicos com o corpo, traumas físicos, entre uma infinidade de outras possibilidades, todas têm influência na nossa postura, seja a curto ou a longo prazo. E sem dúvida que o factor mais importante aqui chama-se Tempo. 

Um exemplo simples, são pessoas que passam bastante tempo sentadas a trabalhar ao computador, e que desenvolvem uma postura com a cabeça bastante anteriorizada (para a frente), bem como os ombros, e bacia. Mas poderia dar outros como, raparigas que foram bailarinas clássicas durante vários anos na sua juventude. Se o leitor conhecer alguma, talvez já tenha reparado que essa pessoa quando está relaxadamente em pé muito provavelmente tem os pés numa posição semelhante á da figura.


Então, será que sou “torto”? Tenho uma má postura? 

Há primeira pergunta sim, de certeza, em maior ou menor grau, todos somos “tortos”. A boa notícia é que não há mal nenhum nisso, e não tem necessariamente de haver uma má postura por isso. São as idiossincrasias físicas do cada individuo. 

É por isso que não existe uma “postura normal”. Há sim uma “postura ideal” como veremos adiante com imagens. No fundo, o que importa perceber é que há certas zonas do corpo e posições das articulações que servem como referência para percebermos se estamos minimamente alinhados para nos movermos sem entrar em mecanismos lesivos. Porque o princípio subjacente a uma postura ideal, de forma muito simplista, é a de que um correcto alinhamento (das articulações) e um equilíbrio das forças (ausência de desequilíbrios entre músculos) permite um movimento feito com precisão, como por exemplo, agachar, e o resultado é o movimento ser eficaz e portanto as articulações e músculos serem preservados no longo prazo. 

E como são as posturas incorrectas? 

Na verdade não sei. Passo a explicar. São infinitas. Há toda uma variabilidade possível de alinhamentos menos correctos, tudo depende de individuo para individuo. 

Ainda assim, e felizmente, conseguiu-se tornar as coisas não tão dispersas, e é possível eleger 3 tipos de alinhamento a partir das quais a variabilidade discorre. E são as que estão na imagem.

Figura 1 Da esquerda para a direita, Postura Ideal, Cifótica-Lordótica, Flat Back (costas planas) e Sway Back


E consequências? 
Quão danoso pode ser manter uma postura mal alinhada? 

Imensamente danoso. Mas a questão é mais complexa, vai mais além do que uma simples postura desalinhada. Mesmo quem tem uma postura relativamente boa, depara-se com a lesão. E porquê? Tem tudo a ver com controlo motor, ou seja, a forma como executamos e controlamos determinado gesto ou movimento. 

Como disse atrás, a nossa postura reflecte, no fundo, as nossas vivências, e foi adquirida ao longo do tempo. É portanto uma consequência da forma como executámos movimentos de determinada forma e em determinada(s) posição(ões). Portanto é imperativo que tenhamos certos cuidados na forma como nos mexemos e nos posicionamos. Um exemplo? Agachar através das pernas e manter as costas direitas. Vai mais um? Manter as costas coladas ao apoio lombar da cadeira (ou colocar uma almofada para criá-lo). 

Por sua vez, existindo uma postura desalinhada não tem de haver lesão, mas a probabilidade desta ocorrer é exponencial e assustadoramente maior. Um desalinhamento significa que algumas das articulações que possuímos terão pouco espaço para se moverem numa determinada direcção e, espaço excessivo na oposta. E o corpo não se preocupa em corrigir isso antes de mexer. Ele cumpre simplesmente um objectivo que poderá ser o de alcançar uma caneca na prateleira mais alta do armário. E nesse processo, se calhar ombro e cervical foram visados pois ambas as zonas não tinham mais espaço para mexer nas respectivas articulações, devido há posição em que estavam, decorrente de uma postura pouco ideal para aquele movimento. E a pessoa forçou-as para alcançar a dita caneca. 

Os exemplos de cuidados que dei acima são dos mais básicos. E há um infindável número de pormenores específicos, pois variam conforme as características de cada um, do seu posto de trabalho, exercício que fazem, etc., e que deveriam ser transmitidos às pessoas nos seus locais de trabalho, ou nos sítios em que praticam desporto, pelo Fisioterapeuta. É em última análise, uma questão de educação. Educar cada um a ter a sua Consciência Corporal. 

Ok boa! Já me apercebi que realmente não tenho das melhores posturas. Mas agora, não há volta a dar a isto? 

Naturalmente que há. E quanto mais cedo, melhor. O tempo é fulcral aqui. Quanto mais tempo passar numa postura “perigosa”, menor a probabilidade de a reverter, e também maior a de adquirir lesão. Tenho bem presente um foto que vi há algum tempo, deste senhor indiano a descansar.


Não entrando em discussões sobre ser a forma ideal de descansar, a verdade é que é uma boa e eficiente forma de o fazer. Mais, é a forma como todos nós a fazíamos. É uma posição habitual nos bebés, que ainda não têm qualquer vício postural. 

Mas que poucos de nós a serão capazes de realizar sem esforço. Ainda menos os que tiverem uma idade semelhante ao do individuo indiano. E a razão está em termos deixado de assumir posições como aquela, porque temos um instrumento civilizacional chamado “cadeira”. E perdeu-se a capacidade de algumas articulações se moverem naquelas amplitudes. Passou a ser um alteração Estrutural e não Postural. 

A “Função faz a Forma” também. Portanto quanto antes há-que corrigir a forma como cada um de nós se move e as posições corporais em que o faz. Através da educação, de exercícios e de técnicas específicas de correcção postural. Não é do dia para a noite, advirto. Da mesma forma que uma postura incorrecta foi adquirida ao longo do tempo, a sua correcção também se prolongará. Não há receitas milagrosas. 

Proteja-se. Só tem um corpo.


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