Andar à boleia é uma actividade tão antiga como as origens dos próprios transportes, sejam eles de origem animal ou de deslocação sobre rodas. Um processo em que determinada pessoa pede a outra que a ajude a chegar a um determinado ponto, aproveitando a direcção – em parte ou no seu todo – que o utilizador do veículo está a tomar. Com mais ou menos bagagem às costas, com ar mais ou menos lavadinho, tornou-se célebre o símbolo do polegar virado para cima ou a apontar na direcção pretendida.
Com o advento das novas tecnologias, a simples boleia sofisticou-se, podendo ver-se a sua disponibilidade na ‘net’ e até fazer-se marcações! Quase como se de um bilhete de transporte público se tratasse, chega-se a acordo com o prestador do ‘serviço’ e viaja-se de um ponto A para um B, a valores bem mais acessíveis e com determinadas condições de parte a parte. O processo dá pelo nome de ‘carpooling’ e vêm complementar as crescentes necessidades em volta dos termos de mobilidade e sustentabilidade. Atenção! Não confundir, como é frequente, com ‘carsharing’, de características marcadamente diferentes e sobre o qual falarei noutra altura.
‘Carpooling’ implica uma partilha de viagens sob determinadas condições pré-estabelecidas. Disponibiliza-se um lugar ou aceita-se alguém com um determinado destino, de distância muito variável, ou então que viva ou trabalhe nas imediações, deslocando-se entre locais de grande proximidade. Partilham-se os custos (combustível, portagens e desgaste da viatura) e pode haver um condutor único ou então fazerem-no em sistema rotativo, cada um levando o seu carro à vez, em períodos de tempo fixos, eventualmente assumindo os custos na sua vez, enquanto os restantes viajam de graça. Os benefícios são imediatos e globais, poupando-se no combustível e na manutenção das viaturas, ao mesmo tempo que se reduz o número de automóveis em circulação e os níveis de poluição.
Numa altura em que todos os tostões contam, há inúmeros defensores desta solução em Portugal, embora ainda poucos a pratiquem. Um estudo recente refere que o ‘carpooling’ é do interesse de 43% dos portugueses, mas apenas 6% dos analisados a ela recorre. Desconfianças para com a pessoa cuja boleia se aceita ou dá, consciencialização da limitação física de deslocações extra quando não se está no próprio veículo e outras razões de índole mais pessoal – limpeza, vícios ou convivência com pessoas com determinadas características – são óbices a que a ideia se desenvolva mais depressa. Mas aquelas percentagens irão aproximar-se a breve prazo!
E como o fazer? Bem… se quando comecei a pensar neste tema apenas havia ‘tropeçado’ numa ou outra solução, depressa me deparei com um crescente número de páginas de internet dedicadas à temática! Senão vejamos: há os mais simples DeBoleia.com e Pendura.pt ou os mais sofisticados BlaBlaCar, Boleia.com e Boleia.net, visualmente mais desenvolvidos. Todos permitem encontrar parceiros de viagens (quer do lado da oferta, quer do lado da procura) para diversos destinos, com indicação de custos, número de lugares disponíveis e condições preferenciais dos viajantes, entre outras informações. A própria gasolineira Galp desenvolveu o conceito Galpshare e há Câmaras Municipais que já incentivam a prática, internamente para as suas frotas (Oeiras é um exemplo) ou disponibilizando informação dedicada na sua página, como faz o município de Évora, tudo em prol de uma mobilidade que se quer sustentável, mas principalmente de uma carteira que se pretende menos volátil!
E, claro está – não poderia faltar… – há uma ‘app’ para smartphones de concepção nacional, denominada wiRIDE e que foi desenvolvida tendo os estudantes como alvo, numa plataforma gratuita que lhes permite andar à boleia de forma segura dentro de determinados perímetros. A mesma viu-se distinguida nos galardões do “Lisbon BIG Apps 2013”, programa de desenvolvimento e aceleração de projectos com vista a criar negócios viáveis, com o júri a premiar o trabalho deste grupo de estudantes do IST e da Católica, abrindo-lhes as portas para voos mais altos.
Longe vai, por isso, aquela máxima do “Nunca aceites boleias de estranhos!” que os nossos progenitores apregoavam, tendo em conta os nossos trajectos de juventude para as escolas (nomeadamente nas recorrentes greves de transportes públicos, como as que agora voltámos a conviver) ou para as zonas de divertimento ou lazer, como praias, parques de campismo, festivais de música ou, apenas, para irmos ‘à pala’ até um qualquer ponto do planeta. Claro que há que ter algum cuidado e também saber dizer “não, obrigado!”, mas hoje, seja em boleia ou ‘carpooling’, as viagens nunca mais vão ser a mesma coisa!
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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