Everest


'Everest', de Baltasar Kormákur, é um filme que pede para ser experienciado em IMAX, devido à soberba cinematografia de Salvatore Totino – que dá à audiência a possibilidade de simular a experiência de estar no Monte Evereste – e a uma realização que dá uma correcta representação de grandiosidade e respeito, sobre um local que transcende a humanidade.



O desastre de 1996, que este filme retrata, ficou marcado, durante muito tempo, como um dos piores eventos ocorridos no Monte Evereste. Somente em 2014 (16 pessoas morreram devido a uma avalanche) e 2015 (18 mortes devido ao fatídico terramoto no Nepal) é que ocorreram eventos com maior número de casualidades. Contudo, apesar dos mais recentes incidentes, foi em 96 que o desastre ganhou notoriedade e levantou questões sobre a comercialização do Monte Evereste. Este é um dos focos presentes numa narrativa que, apesar de ser bastante linear no que toca às personagens que acompanhamos, mostra o quanto o hype e a excessiva exploração, condicionou as expedições a um local que não é suposto ser visto como turístico.

Com um elenco que se compara à magnitude de Everest (Jason Clarke, Josh Brolin, John Hawkes, Robin Wright, Emily Watson, Keira Knightley, Sam Worthington e Jake Gyllenhaal), adivinhava-se complicado uma caracterização mais trabalhada das personagens que preenchem o lado humano deste filme. Este é um dos lados negativos de retratar eventos verídicos: existe uma necessidade de encaixar todas as personagens, bem como os seus destinos, dificultando a empatia por parte da audiência. Apesar disso, os protagonistas Jason Clarke e Jake Gyllenhaal destacam-se devido a um inegável carisma – mesmo que fiquemos a saber muito pouco acerca das suas personagens.




Com apenas uma leve noção do que motiva este grupo a efectuar uma proeza tão sofredora, acompanhamos uma escalada que se assemelha a uma lenta caminhada para a morte, tendo em conta que o nosso corpo começa literalmente a falhar a partir dos 8000 metros de altitude, na chamada 'Zona da Morte'. 

Este conceito foi concebido pelo médico e alpinista suíço Edouard Wyss-Dunant, que em 1952 liderou uma expedição ao Everest. Em 1953 lançou um artigo no jornal 'The Mountain World', onde descreve as quatro zonas que um montanhista atravessa em grandes altitudes (zona de aclimatização, zona de adaptação, zona da morte e zona máxima). Estas noções, e respectivos efeitos secundários, são-nos transmitidos ao longo da história, mantendo sempre a mensagem de que subir o Monte Everest é um caminho doloroso e sem piedade. 

'Everest' retrata a luta do homem contra a natureza, através de factos reais e incontornáveis. Por esta razão, um foco exagerado no drama entre os envolvidos do desastre de 96, não iria surtir o mesmo efeito (considerando o elevado número de personagens), mas sim afastar a narrativa do elemento mais importante deste filme: o fantástico poder da natureza, que nos recorda da total insignificância e fragilidade do ser humano – razão pelo qual muitos se sentem atraídos em tentar provar o contrário.


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