Levar a Leitura Até Si


Depois de alguma pesquisa, cheguei à triste conclusão de que no espaço de um século o conceito de biblioteca itinerante pouco ou nada cresceu no nosso país, sendo que só no passado mais recente se têm desenvolvido os chamados bibliocars ou bibliomóveis, consoante a designação dada pelas diversas autarquias que os têm a rolar nos seus limites geográficos.

Fotos: Câmaras Municipais da Batalha, Grândola, Oliveira de Azeméis, Penafiel, Porto e Montijo (por ordem de apresentação) 
Nascidas em Portugal em 1911 – os estudos publicados dizem que o primeiro Decreto-Lei sobre o tema data de 18 de Março – as bibliotecas sobre rodas evoluíram ao longo dos tempos, aliás, como em tudo na vida, mas muuuuuuuuuuito devagarinho, qual tartaruga esmagada pelo conteúdo literário das mais diversas obras. Três anos depois houve um primeiro encontro em Alpiarça dos primeiros veículos – então referidos como “carros ou barracas sobre rodas” – que transportavam livros de conteúdo diverso para tentativa de educação da população. 

Apesar da aparente boa vontade, o processo teimava em emperrar, dado o aparente grau de iliteracia que se pretendia para o povo luso entre a queda da monarquia e o final do denominado Estado Novo. Ainda assim, haviam ténues tentativas de promoção e desenvolvimento do prazer pelas letras e que, sobre rodas, se fosse ter com as pessoas. Como o carro-biblioteca que começou a circular por Cascais em 1953 – veja-se bem, 40 anos depois!!! – numa ideia impulsionada por António Branquinho da Fonseca, escritor e conservador/bibliotecário do Museu e Biblioteca Conde Castro de Guimarães, ou, cinco anos depois, a criação do serviço de bibliotecas móveis da Fundação Calouste Gulbenkian, primeiro com 15 bibliotecas itinerantes, frota que cresceria até 47 saudosas Citroën Type-H, que invadiram a capital.

Fotos: Câmara Municipal de Cascais, Fundação Caloust Gulbenkian 
Transportando várias centenas de livros, elas permitiam o livre acesso às estantes, empréstimos, entrega domiciliária e outros serviços, tudo de modo gratuito. Os mais novos tinham à sua estatura os livros infantis e as prateleiras que iam subindo em altura e conteúdos, entre obras de literatura, ficção e biográficas. No topo ficavam as temáticas ou os livros menos pedidos, das ciências e filosofias. Infelizmente, dado a censura da altura nem tudo estava disponível! 

A leitura sobre rodas ultrapassava, assim, com enorme dificuldade os muitos obstáculos, sofrendo muitos ‘furos’ pelo caminho, sendo necessário mais meio século até que se voltasse a considerar imperativa a recuperação das bibliotecas móveis. Os renovados passos foram dados em 1996, no norte do país, primeiro em Arcos de Valdevez, Guimarães ou Mirandela, municípios que deram rodas aos serviços das existentes bibliotecas municipais. Hoje, quase 20 anos depois, notam-se avanços significativos – mal seria!!! – mas se considerarmos que Portugal tem 308 municípios, há apenas 69 com esse o serviço Bibliobus (ou algo equiparado) e maioritariamente direccionado aos leitores mais novos. Surpreendentemente, há um nos Açores, no Concelho da Madalena, na Ilha do Pico! Conheçam-nas mais em detalhe na página de A Nave Voadora, base actualizada a Dezembro do ano passado.

Fotos: Google Search
Fora das nossas fronteiras o conceito Bibliobus também está mais ou menos disseminado, dependendo do grau de envolvimento das autoridades de cada país, sendo as fotos acima apenas alguns exemplos correntes do que se pode encontrar a nível mais ou menos oficial por esse mundo fora. Correntes… um adjectivo que decerto não se aplica ao exemplo seguinte, um conceito que se demarca dos demais e que foi desenvolvido por um argentino, passeando-se pela capital Buenos Aires, assente no que parece ser… um tanque de guerra! Fazendo a ponte com a expressão “Arma de Destruição Massiva”, Raul Lemesoff construiu esta Arma de Instrução Massiva, para levar os seus conterrâneos a desenvolverem o gosto pela leitura.



Um projecto que até mereceu a atenção da 7UP e que funciona apenas como método de distribuição de livros sem custos, obrigando a apenas uma promessa ao artista: que sejam efectivamente lidos! 

Posto isto, deixo-lhe uma última pergunta: há quanto tempo não lê um livro? Acha que não tem tempo ou que os afazeres diários não lhe permitem essas ‘frescuras’? Desengane-se, porque não há nada melhor do que alguma cultura, mesmo que perdendo uma meia hora de sono em prol das letras. O tema não interessa, bem como se os conteúdos são mais rebuscados ou menos elaborados, isso depende da predisposição do momento. Interessa é que leia e que, com isso, leve a que os seus familiares e amigos também o façam.

Quiçá, um excelente objectivo para as próximas férias que se avizinham!

Uma palavra final de agradecimento a Rui Manuel Neves, Chefe de Divisão de Bibliotecas/ Biblioteca Pública Municipal de Montijo, e ao blogger Fernando Vilarinho, cujos estudos me ajudaram a compor este texto e aprender algo mais sobre a evolução da leitura sobre rodas no nosso país!

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!

José Pinheiro

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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