Agora que os dias começam a alongar-se e as nuvens a dissiparem-se para dar lugar à verdadeira Primavera, muitos serão aqueles que dão largas á sua paixão pela corrida. Mais não seja porque o Verão vem logo a seguir, e a corrida é uma óptima forma de melhorar um pouco a forma física bem como perder alguma peso.
Mas quer esteja a continuar, e sobretudo se estiver a começar, é fácil entrar em alguns devaneios e meter-se em exageros no que toca à distância ou ao tempo que corre, bem como cometer alguns erros em relação ao equipamento ou á escolha do percurso. Existem muitas variáveis, e não raras vezes o que poderia tornar-se um hábito saudável, culmina em lesão e muito provavelmente a necessidade de parar, menos tempo ou mais tempo conforme a gravidade e a lesão.
Estas são as mais frequentes:
Síndrome da Banda Iliotibial – é uma lesão que produz dor na face externa do joelho afectado quando corre, ao descer escadas ou uma rampa inclinada, mas não está necessariamente presente quando anda em superfícies planas, está deitado ou sentado, ou ao longo do dia de forma geral. Pauta-se pela lesão da dita banda ilio-tibial (que vem desde a zona glútea até ao joelho) na zona do joelho, por fricção numa zona do fémur que é proeminente. Costuma ocorrer porque a intensidade do treino é exagerada ou aumentada muito rapidamente, por fraqueza de alguns músculos estabilizadores da anca, ou por uma passada muito pronada (que pode ter varias razões);
Tendinopatias Rotuliana e Aquiliana – Ocorrem como o nome indica, no Tendão Rotuliano (joelho) e no Tendão de Aquiles (por cima do tornezelo, na parte de trás). Ocorrem quando estão a ser demasiadamente esforçados, e podem ser várias as razões. Desde, os músculos a que estão conectados entrarem frequentemente em grande fadiga, a uma postura corporal errada durante a corrida, ao típico sobreuso, ou um aumento muito grande e rápido na intensidade dos treinos, o uso de ténis incorrectos ou passar de ténis minimalistas para amortecidos e vice-versa. É importante acautelar o tratamento destas situações, pois tornando-se crónicas, a sua resolução é muito mais difícil, senão impossível.
Fascite Plantar – Um problema muito perturbador e por vezes muito doloroso, na planta do pé. Antes de mais, o nome não deveria terminar em “íte” pois muito raramente a inflamação ocorre, e quando a há, é o menor dos problemas. Não há uma razão objectiva para o aparecimento deste problema, são sempre vários os contribuidores: desde um pé com uma passada excessivamente pronada ou excessivamente supinada (sim é mentira, a fascíte não é exclusiva dos pés com pronação excessiva), fraqueza de certos músculos da perna e pé, traumatismo (i.e. pisar uma perna), ténis incorrectos em termos da rigidez da sola, estabilidade e amortecimento que oferecem, etc.
Síndrome de Stress Tibial – Também conhecida por “Canelíte” e Periostite Tibial. Constitui-se por dor na zona interna da canela durante a corrida, mas pode também ocorrer durante o simples andar, ou até parado. Pode ser importante realizar um diagnóstico diferencial com exames complementares como o Raio-X ou Ressonância em algumas situações. Esta situação é muito frequente em todos os desportos que impliquem muito movimento com os membros inferiores. Ténis muito desgastados e um grande aumento na intensidade do treino num curto espaço de tempo são os principais suspeitos.
Outros problemas
O que acabei de descrever são situações relativamente concretas. Mas existem outras questões que não têm de dar propriamente dor e provocar incapacidade, mas que são muito importantes ter em conta, pois são factores de risco lesivo, nomeadamente;
Equilíbrio – A corrida é um desporto predominantemente linear, isto é, passa-se praticamente em sempre em linha recta, mesmo nos trails. Por isso mesmo, mas ao contrário do que se poderia pensar, o equilíbrio nos corredores costuma ser pouco eficaz. Isto conduz a uma maior probabilidade de lesão quando muda o piso em que corre e quando está mais cansado e é um grande factor de risco para entorses do tornozelo, entre outros problemas.
Densidade Muscular – Lá porque os corredores costumam ser magros, não significa que não tenham musculo. Bem pelo contrário, têm musculo e este é muito resistente. Isso significa que é extremamente aconselhável realizar um bom trabalho de força muscular a fim de aumentar a constituição dos músculos. Um músculo até pode ser grande, mas não ser denso. E um músculo mais bem constituído vai aguentar muito melhor a energia do impacto de cada passada que dermos.
Postura – É importante que tenha noção de como o seu corpo está posicionado enquanto corre. Vai influenciar a mecânica da sua forma de correr. Uma das características mais habituais é a anteriorização da cabeça, ou seja uma postura “head-chasing”, em que dá a ideia de estarmos a “perseguir” a nossa cabeça. Procure levantar a cabeça e porventura não dobrar tanto o tronco para frente enquanto corre.
De uma forma geral, oiça o seu corpo. Alongue correctamente no final das corridas, dê o descanso devido e durma bem, hidrate bem durante o dia (não apenas imediatamente antes e depois de correr) e nada de exagerar nos treinos. Ninguém se torna um Carlos Lopes em 2 ou 3 meses!
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