Quando pensamos em amores platónicos, geralmente voltamos à nossa adolescência, àquela paixão pelo professor ou professora, pelo garoto ou garota mais popular da escola ou pelos ídolos da TV e do cinema. Um amor idealizado, com um tom de glamour, ilustrado por cenas e beijos imaginários.
Crescemos, e esses sonhos ficam no passado. Porém, quantas vezes não acabamos a reproduzir os antigos amores platónicos de uma nova maneira? Eles passam a ser direcionados a pessoas mais próximas, são amores aparentemente mais "possíveis". Porém, ainda assim, mantêm a inviabilidade da concretização do vínculo amoroso. Uma distância do ser amado que se manifesta em diferenças que podem ocorrer no âmbito social, de idade, hierárquico, por meio de uma relação proibida, ou simplesmente por um bloqueio em demonstrar o sentimento, que acaba tornando a pessoa amada inalcançável. Assim, percebemos que todas as manifestações do amor platónico guardam a mesma característica: a impossibilidade.
A PESSOA DESEJADA SIMBOLIZA ALGO QUE NOS FALTA
Esses amores impossíveis costumam refletir algo que admiramos: a beleza, a inteligência, o charme ou alguma habilidade especial de certa pessoa que nos faz desejá-la. Ao olharmos para essa profunda admiração, que pode chegar à idolatria, é interessante perceber que aquilo que tanto apreciamos no outro é na verdade aquilo que, de alguma forma, não conseguimos encontrar em nós mesmos.
Se pensarmos bem, a adolescência é uma fase em que a autoestima e a individualidade passam a ser mais decisivas na nossa vida. O amor platónico adolescente representa esse referencial daquilo que queremos ser e ter, podendo ser positivo ao estimular a busca por aquilo que se deseja - a princípio visto como algo externo, em outra pessoa.
O fator platónico do amor torna inalcançável externamente aquilo que, na realidade, buscamos dentro de nós mesmos.
Projetamos externamente as possibilidades para conquistar aquilo que só será alcançado dentro de nós, mas que colocamos fora do nosso alcance, de alguma forma nos distanciando de nossa própria realização. A pergunta a se fazer é: por que continuamos a tornar inalcançável justamente o que mais desejamos, projetando isso no outros?
O LADO CÓMODO DAS ILUSÕES
Viver as ilusões de um amor platónico faz parte de nosso amadurecimento afetivo. Porém, a repetição dessa situação requer a compreensão do que está por trás dessa busca inconsciente pelo impossível. É fácil perceber que esse tipo de amor traz implícito um medo, uma fuga. Alimentar-se da ilusão, ainda que não traga a tão sonhada concretização do amor, é mais seguro e confortável do que encarar a realidade e todos os confrontos inevitáveis na vivência dos relacionamentos. A vida real é muito mais sem graça, menos glamourosa e bem mais trabalhosa do que o amor idealizado. O final feliz dos filmes e contos de fadas não é a regra geral para a maioria das relações afetivas.
POR QUE TEMOS MEDO DE ENCARAR OS MEDOS?
Muitas vezes ficamos prisioneiros da nossa dificuldade de nos mostrar, de nos expor e de nos colocar para o outro. Com medo de nos sentirmos expostos, submissos, e até mesmo humilhados por uma possível rejeição, fechamo-noss em nós mesmos. O nosso maior desejo é viver o amor, porém, o nosso maior medo é demonstrá-lo para quem amamos. Assim o que mais queremos passa a ser nosso maior medo.
Os motivos que criam o medo de viver o amor real podem ter as mais variadas raízes: vivenciar quando criança um relacionamentos nocivo dos pais, vivenciar pessoalmente, e/ou ver a sua volta experiências afetivas traumáticas, situações traumáticas de rejeição e abandono que ficam gravadas no campo emocional (ainda que hoje possam não parecer um problema). A rejeição traz sempre uma dor muito intensa. Porém, essa dor geralmente tem raízes mais profundas, e é nelas que devemos nos focar para encontrar caminhos para viver o amor de maneira mais verdadeira e saudável.
A dor da rejeição representa uma fragilidade, criando uma ferida que nos faz deixar de acreditar em nós mesmos, enfraquecendo a autoestima e poder pessoal.
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