Quando era puto e a loucura para mim era já o automóvel – então na versão “carrinhos da Matchbox” – tinha uma paixão que me ocupava grande parte das férias: as pistas! Tinha uma em plástico daquela marca e, mais tarde e á medida dos aniversários, Natais e outros que tais, outra eléctrica, acho que da ScaleXtric!
A primeira compunha-se, nesse tempo, por algumas secções em recta, uma ou outra curva e um looping, tudo em plástico amarelo, ligando-se por umas linguetas vermelhas. Idealmente deveria ser montada num longo corredor e o seu início fazer-se numa prateleira alta de um qualquer móvel. Para quê? Para se verem as miniaturas à escala 1:43 – o saco dos ditos era imenso!!! – ganhar velocidade na descida, até pararem algures no traçado. O que chegasse mais longe era o grande vencedor! Yeahhhhhhhh!!!! Já na eléctrica, encaixavam-se os carrinhos nos carris para corridas feitas a pares, em família ou amigos, disputas que detestava perder, por vezes acompanhando a derrota da tão irritante birra do gritado “não brinco mais!!!”.
O tempo passou, eu cresci – um bocado, acho… – mas mantive-me quase sempre ligado à vertente automóvel a nível profissional, e eis que vejo agora esses meus sonhos de criança estarem prestes a tornarem-se realidade. Hoje trago-lhe os projectos holandeses “PlasticRoad” e “Smart Highway”, o primeiro recorrendo aos quase indestrutíveis plásticos e o segundo apostando na electricidade, soluções com um vasto potencial de aplicações, num futuro que pode não estar assim tão longe quanto isso.
O projecto PlasticRoad, dos holandeses da VolkerWessels, aposta num inovador conceito para o desenvolvimento e construção de pisos plásticos para estradas!. Uma aposta sustentável e que está a ser feita em parceria com a “Cradle to Cradle” e a “The Ocean Cleanup”, iniciativas que visam limpar os mares da chamada “sopa de plástico”. É que, de acordo com o mais recente estudo da PLOS – Public Library of Scince, são mais de 5.000.000.000.000.000 (sim… nada menos do que 15 “zeros”) as peças plásticas que o Homem ali já despejou, correspondendo a cerca de 250.000 toneladas de materiais que, neste momento, vagueiam pelos oceanos do nosso planeta!
Fotos: VolkerWessels
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Um projecto que apresenta outras vantagens em comparação com as estradas convencionais. O plástico é muito mais sustentável do que os materiais usados actualmente – betumes e cimentos – abrindo a porta à implementação de outras inovações: produz-se energia, obtêm-se superfícies mais suaves, integra sistemas de aquecimento, a construção é feita por módulos, há espaços para colocação de cabos, tubagens e drenagem da água da chuva, etc. Para além disso, há uma enorme poupança de tempo na sua construção e, com isso, milhões de euros às entidades rodoviárias, ao Estado e, em última instância, a nós que pagamos parte significativa da factura, em portagens e outras taxas, e necessita de menor manutenção, pois o material é mais resistente às condições meteorológicas. Resta saber como os produtores de pneus das viaturas irão fazer evoluir as borrachas que hoje fazem o contacto com o piso.
Fotos: Heijmans
Infrastructure/Daan Roosegaarde
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Também do país das túlipas chega-nos um outro conceito de vertente eléctrica, da Heijmans Infrastructure e do designer Daan Roosegaarde. Chama-se Smart Highway e envolve a criação de toda uma rede de estradas e auto-estradas sustentáveis e interactivas. A energia solar é a fonte de alimentação destas estradas do futuro, no próprio piso e informações nele mostradas aos condutores, quer nas marcas no pavimento, nos sinais de trânsito e mesmo na relação com as viaturas e utilizadores, até prevendo corredores verdes para recarregamento de viaturas eléctricas enquanto se circula.
Algo semelhante ao que já foi apresentado do outro lado do Atlântico como uma startup, o projecto Solar Roadways. Aqui pretende-se aproveitar a energia solar através de um vasto conjunto de painéis transparentes, dotados de células que, uma vez dispostos no chão, revestem estradas e autoestradas, passeios e outros conteúdos envolventes. A tecnologia integra uma complicada electrónica e sensores com capacidades de autoprogramação, em função das mudanças e alterações ambientais. Para dar uma componente ainda mais verde, são feitos a partir de materiais reciclados e incorporando células fotovoltaicas e tecnologia LED de última geração.
Fotos: Solar Roadways
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Ou seja, projectos não faltam, ou não fosse o Homem um elemento da natureza com uma muito fértil imaginação, ainda que, às vezes com resultados catastróficos... Mesmo com uma filosofia mais optimista, qualquer dos projectos acima não é de fácil implementação, nomeadamente pela mudança de mentalidades e pelas indústrias que irão afectar quando e se vierem a ver a luz do dia. Tal como os grandes produtores de petróleo viam com maus olhos a produção do automóvel eléctrico, que não precisava dos combustíveis fósseis por eles produzidos, o mesmo poder-se-á passar com os produtores de betumes e materiais que revestem as estradas do presente.
Mas, como diz o dramaturgo britânico William Golding, “nenhum empreendimento humano pode ser totalmente bom... tem sempre que ter um custo”.
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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