Um Processo Irreversível

E se, de repente, em vez da sua idade actual, envelhecesse uns aninhos e passasse a ter umas boas e, eventualmente, bem vividas 70 ou 80 Primaveras? Sim, isso mesmo… E se, tal como acontece no presente, continuasse a ter de usar o seu automóvel para as suas deslocações diárias? Decerto haveria movimentos e acções que se tornariam bem mais difíceis de realizar uma vez ao volante, para além da inerente diminuição da sensibilidade para com o ambiente rodoviário em seu redor!

É este processo de envelhecimento precoce – mas muito real dentro de uns tempos, em situação normal – que os investigadores das quatro rodas se debruçam, preparando os novos modelos às necessidades dos condutores de idade mais avançada. À medida que os anos passam, são inevitáveis as limitações em termos de mobilidade, como também visuais, auditivas, sensitivas e cognitivas, se bem que muitos se mantenham no ‘terreno de jogo’ – leia-se, nas estradas – contribuindo para tudo o que se passa em redor dos restantes participantes.
Fotos: Liberty Seguros

Sobre esta temática, a seguradora Liberty Seguros realizou no ano passado, o evento “Crescer e Envelhecer na Estrada”, com o apoio da Associação Portuguesa de Avaliação do Dano Corporal (APADAC), naturalmente debruçando-se sobre a perda de algumas capacidades sensoriais e motoras dos condutores e seus reflexos em termos de sinistralidade. 

No âmbito do mesmo, foi apresentado algo denominado “Fato da 3ª Idade” que simula esse envelhecimento precoce. O mesmo foi ‘vestido’ a vários condutores mais jovens que, de repente, envelheceram uns bons anos em termos da tal mobilidade, fruto de elementos individuais que limitam os movimentos dos membros superiores e inferiores, da cervical, coluna e bacia, outros reduzindo o alcance visual – distâncias, detalhe e nitidez de imagens, sensibilidade à cor e à luz – ou mesmo auditivo! O processo está bem descrito no vídeo abaixo, para o qual chamo a sua atenção, nomeadamente aos vários dados e realidades complementares que nele se expressam.



A exploração deste tema iniciou-se em 1994, pelas mãos da Ford, que queria o seu próprio especialista para melhor compreender os seus clientes de idade mais avançada, de modo a poder adaptar os seus futuros modelos aos utilizadores com essas necessidades tão especiais.

Fotos: Ford



Criou, então, um fato simulador, que as suas equipas pudessem ‘vestir’ e ‘sentir’ na pele as (quase reais) limitações dos mais idosos, nos diversos quadrantes, mais do que apenas analisarem em computador as teorias até aí existentes. Ao longo dos tempos muitos passos foram dados, permitindo até o estabelecimento de outras parcerias, por exemplo, ao nível da aviação com a Boeing, para idêntica análise na condução de aviões, ou com a Napp Pharmaceuticals, para a pesquisa da orteoartrite, ou ainda na indústria de construção civil, entre outras. 

Assim sendo, quando estiver na estrada e, eventualmente, vir uma pessoa já com alguma idade a fazer algo menos conseguido ao volante, em vez de se expressar com impropérios um tanto ou quanto evitáveis, pense que, dentro de alguns anos, poderá ser você essa pessoa dentro de um qualquer carro! É que, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, por cada 100 jovens no nosso país há 136 idosos com mais de 65 anos, numa tendência crescente de envelhecimento da nossa população, pois Portugal tem tido as mais baixas taxas de natalidade da União Europeia. Enfim…! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve! 

José Pinheiro 

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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