O leite está presente desde o momento em que nascemos e acompanha-nos ao longo da vida. Trata-se de um alimento que muito diz à cultura portuguesa.
Mas será que aquele anúncio televisivo que recomenda o consumo de 3 copos de leite por dia é verídico ou apenas assenta numa manobra estratégica de marketing?
Pessoalmente, acredito que seja apenas uma manobra de marketing. Fazem-se valer de ferramentas agressivas como a osteoporose ou o desenvolvimento ósseo saudável para nos incutir o hábito de beber leite. Para tornarem a informação mais credível, mencionam o cálcio e as vitaminas ao ponto de criarem "versões suplementadas" com estes elementos. No entanto, a maior parte das pessoas que não abdicam do leite ainda não parou para pensar que o homem é o único mamífero que bebe leite a vida toda. Haverá mesmo necessidade?
A resposta é não, principalmente se for referido o leite proveniente da vaca. À medida que as evidências científicas vão ficando mais claras, a sua imagem vai ficando manchada diante a sociedade. O que era tido como bem essencial começa a tornar-se em algo perfeitamente dispensável.
Contudo, se estivermos a falar do leite materno, numa fase precoce da vida, o consumo é fundamental pois permite estimular o crescimento e desenvolvimento funcional do organismo. Como tal, devo deixar bem claro que as críticas tecidas serão associadas ao leite proveniente da vaca aproveitando para estabelecer comparações com o leite materno.
O leite materno é constituído essencialmente por água (cerca de 85%) enquanto que o restante é preenchido por uma combinação perfeita de elementos altamente importantes para o bom desenvolvimento do organismo numa fase de crescimento.
Já o leite da vaca, apesar de conter factores biológicos de excelente qualidade, acaba por não assumir o grau de importância que lhe continuam a impingir. Além de ser proveniente de outra espécie animal, é tão processado que até chegar ao nosso copo já perdeu parte da riqueza nutricional característica pelos processos de fervura e armazenagem.
O leite materno é rico em ácidos gordos essenciais para o organismo. Além disso, revelam grande importância no processo de "maturação" do cérebro e sistema nervoso central. Além da lactose (principal açúcar contido no leite), o leite materno possui muitos outros açúcares conferindo uma maior acção "bifidogénica" quando comparado com o leite da vaca. Por outro lado, a composição proteica e o desequilíbrio entre os minerais acabam por ditar que o leite materno jamais poderá ser substituído pelo leite da vaca.
Relativamente às proteínas, as do leite humano são estruturais e possuem melhor qualidade. Enquanto que o leite materno possui 80% de lactoalbumina, o leite da vaca possui a mesma proporção em caseína (proteína de absorção mais lenta). Como esta se encontra em quantidades reduzidas no leite humano, os "flocos" formados são de fácil digestão reduzindo o tempo de esvaziamento gástrico. Por outro lado, o leite da vaca contém vários constituintes proteícos alergénicos dado que o nosso sistema digestivo não possui enzimas que consigam digeri-los. E aqui iniciamos a descrição das razões pelas quais o leite que consumimos ao longo da vida não é tão recomendado como nos fazem crer.
Apesar do leite materno conter mais aminoácidos, o leite da vaca possui 3 vezes mais proteína. No entanto, o consumo exagerado acidifica o pH do sangue contribuindo para uma sobrecarga renal. Ora, quando pensamos que estamos a criar condições favoráveis para os nossos ossos ao consumir muito leite, na verdade estamos a prejudicar os nossos rins e a contribuir para o aumento da excreção de cálcio pela urina.
O leite da vaca contém 3 vezes mais quantidade de cálcio. Contudo, devido ao desequilíbrio dos minerais fundamentais para a sua absorção e utilização, acaba por nada valer ao nosso organismo dada a biodisponibilidade reduzida. No leite materno, as proporções são mais equilibradas permitindo a utilização apropriada do cálcio.
O leite começa a estar cada vez mais no centro da discussão dado que actua como substância alergénica para o organismo. O mais comum é associar-se com a intolerância à lactose. Apesar da lactose ser a grande responsável pelos transtornos gastrointestinais (esporádicos ou crónicos), a maior parte das complicações (alergias) devem-se ao facto do corpo não conseguir digerir alguns dos constituintes que compõe o leite.
No mesmo sentido, várias publicações têm relacionado o consumo de leite com o facto de não acrescentar qualquer tipo de benefício na prevenção da osteoporose. Até faz algum sentido!
Como se explica que em alguns países africanos exista uma baixa prevalência de osteoporose quando o consumo de leite ou derivados é quase inexistente?
Para agravar, começam a surgir indícios que reforçam a relação com o cancro da próstata, do ovário ou da mama. Não entrarei por esse caminho pois existem muitos outros factores que podem influenciar mas, sinceramente, tendo em conta todos os processos químicos e hormonas a que a vaca e o leite estão sujeitos, não será de espantar que, a longo prazo, o consumo diário de leite se venha a revelar bastante prejudicial para a nossa saúde e seja totalmente desaconselhado.
Com o que foi escrito em cima, posso recomendar que esqueçam as propagandas dos leites com maior teor de cálcio ou vitaminas. Na verdade, apenas contribuem para o enriquecimento do vosso xixi e consequente "emagrecimento" da carteira.
No entanto, o que se pretende não é diabolizar a imagem do leite e que deve ser excluído dos nossos hábitos alimentares. Em pessoas saudáveis e sem qualquer problema do foro gastrointestinal, o leite poderá ser consumido mas de forma bastante regrada. Para quem já foi diagnosticado, existem outras fontes de cálcio cuja biodisponibilidade é maior (semelhante ao leite materno), como o caso dos alimentos vegetais.
A melhor forma de contribuir para uma saúde óssea exímia é manter um estilo de vida saudável. Exposição solar moderada, exercício físico com impacto (permite melhorar a mineralização óssea), alimentação saudável e variada ou um sono confortável com a duração recomendada são pequenas dicas que contribuem para que consigamos manter uma boa qualidade de vida e prolongar a nossa saúde óssea.
Sem comentários:
Enviar um comentário