Sabe quem é Clet Abraham? Não? Ok… eu dou uma ajudinha… é um polémico artista contemporâneo francês, oriundo da região da Bretanha, mas residente em Florença (Itália) e que, nas horas vagas, se entretém a atazanar a cabeça das autoridades de trânsito das localidades que visita. “E porquê?” – perguntam agora, em face desta explicação por demais incompleta. A resposta desvenda-se ao longo das linhas e imagens que se seguem.
Decerto olhou para a foto acima, em que notou um ‘je-ne-sais-quoi’ de estranho em cada uma das imagens que a compõem, não foi? Pois… é essa a actividade ‘paralela’ – e maior parte das vezes vista como sendo contra a lei – do tal artista que, não contente com o cinzentismo da sinalética de trânsito que povoa as estradas públicas e arruamentos das cidades, lhe decide dar uma animação extra. Situação que, por vezes, lhe traz alguns dissabores com as autoridades.
Florença, Bolonha, Roma, Turim, Milão, Lucca, Palermo e Perugia, mas também Londres, Valença, Rennes, Tóquio, Osaka e Paris, entre muitas outras cidades por onde já passou, viram vários dos sinais de trânsito alterados por Abraham, ora arrancando gargalhadas dos transeuntes, ora obtendo visuais mais circunspectos da polícia e demais entidades que garantem a manutenção de ordem pública. Veja-se este vídeo:
Não é que esta faceta de ‘street artist’ danifique os ditos sinais, pois como se pode ver, ele apenas se limita a colocar autocolantes, se bem que alterando parte da sua visibilidade, bem como da sua essência. Acrescenta-lhes uma expressão gráfica e visual identificadora de diferentes realidades do nosso dia-a-dia, da natureza às profissões, de simples tiradas cómicas a outras de cariz mais provocador, como as que parecem ofender a igreja pelo recurso a imagens de Cristo, tudo servindo os intentos do polivalente artista.
Sem se importar com o que as pessoas pensam dele, Abraham pretende, de acordo com uma entrevista dada no início do ano ao blog italiano Tiana’s Travel, mas expor a sua arte e saber como a mesma pode afectar o comum dos mortais, quem a vê. Diz “não pretender desrespeitar o público, mas sim falar com ele”. Remando contra o que a sociedade institui como regra absoluta, o artista quer passar a mensagem de que “o total respeito pelas regras pode ser um obstáculo para a própria sociedade, dado o, por vezes, controlo totalitário da mesma, acabando mesmo por prejudicá-la”.
Um discurso bem mais maduro do que o feito em 2010, logo nos primórdios destas lides, ao Tuscany Arts, então afirmando que “se trata de uma atitude saudável para a liberdade de expressão pela quebra das regras, afinal, a essência de um artista”, considerando que “a omnipresença de sinais de trânsito, para além de ser um sinal de ‘anti-responsabilidade’ cultural, pode roçar o absurdo”. Achava a mensagem muito pobre, por vezes sentindo-se tratado como um idiota, vendo-se chamado a intervir, “para informar o público sobre o absurdo da situação, propondo uma alternativa construtiva e respeitosa, (…) mantendo a sua utilidade, mas com o adicional de interesse intelectual, espiritual ou simplesmente divertido. Objetivo final? Que o tráfego continue a fluir mas sem que nos sintamos diminuídos!”
Fotos: Clet Abraham e CLET (Facebook)
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Note-se que com este texto não pretendo acordar eventuais veias artísticas adormecida a nenhum dos meus leitores mais afoitos, mas apenas trazer uma tirada mais leve do que se poderá deparar, um dia, caso Clet Abraham se decida a visitar terras lusas. Afinal, no nosso país os actos de vandalismo público – em que esta manifestação de estados de alma se insere – implicam, de acordo com a Lei n.º 61/2013 de 23 de Agosto, penas pecuniárias dos 100 aos 2.500 euros para uma série de alterações das características originais de determinadas infra-estruturas, incluindo as rodoviárias (mobiliário e equipamento urbanos), sempre que as alterações não sejam devidamente autorizadas e licenciadas, mas sendo reversível por via da simples remoção, limpeza ou pintura.
Por isso, antes de desatar a rabiscar paredes ou pintar sinais de trânsito, pense um bocadinho na sua carteira!
Nota adicional: tentei obter algumas declarações para trazer um conteúdo mais dedicado para os leitores do Trendy Wheels, bem como saber se o artista alguma vez considerara visitar alguma cidade lusa. Infelizmente não tive resposta ao meu pedido, pelo que me socorri dos conteúdos dos dois blogs acima referidos. Não é o ideal, concordo, mas ainda assim decidi avançar com este tema, de algum modo ímpar.
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
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