O ALFACINHA AMARELO


De todos os veículos sobre rodas que circulam nas nossas estradas, há um pelo qual tenho um particular carinho: o eléctrico. Falo do verdadeiro, o original, com aquela estrutura feita em madeira e metal, que em determinadas ruas parece que vai ‘despencar’ das quatro pequenas rodinhas abaixo sobre os incautos automobilistas, ciclistas e peões que se lhes atravessam à frente. Nada disso! Apesar da aparente fragilidade, trata-se de um transporte público com uma elevada segurança, havendo mais acidentes com outros veículos do que com este simpático “alfacinha amarelo”.




Apesar de poucos o saberem, ele exerce sobre mim um enorme fascínio, o mesmo já não acontecendo com as modernizadas e mais rápidas versões longas que com eles dividem alguns percursos no interior de Lisboa, qual metro de superfície. Ok, são fruto da evolução da espécie, mas o carisma nestes últimos foi-se…! 

Se em tempos eram os reis incontestados das sete colinas lisboetas, os novos tempos e as novas soluções de transportes reduziram-nos hoje a um número muito diminuto: de acordo com o ‘site’ da Carris.

-, são apenas cinco as carreiras a operar neste momento na capital – 12E, 15E, 18E, 25E e 28E – com ligações especiais que atravessam algumas das zonas mais turísticas da capital (ou, eventualmente, as alternativas não conseguem chegar). 

É um curioso ‘bicho’ este aparelho em cor amarela, já centenário, maioritariamente construído em aço e madeira e – até parece… – precariamente equilibrado numa estrutura de metal com quatro pequenas rodas nos seus extremos (nos que apenas têm um ‘boogie’), mais a identificativa vara manobrável manualmente pelo seu condutor, que faz a ligação ao cabo de electricidade que lhe alimenta a alma. 

A sua exploração está entregue, desde sempre – bem… sempre sempre não… mas pelo menos desde 1901 – à Companhia Carris de Ferro de Lisboa, empresa que iniciou as suas actividades de transporte na capital cerca de 30 anos antes, a 18 de Setembro de 1872, com os chamados "americanos" (estruturas semelhantes mas de tracção animal, normalmente cavalos).




Foi a 31 de Agosto de 1901 que se iniciou o verdadeiro serviço de carros eléctricos, substituindo gradualmente os tais dos “americanos” que, até então, ligavam os vários pontos da cidade, fazendo-se acompanhar de uma evolutiva electrificação da rede então existente. A primeira linha eléctrica ligou o Cais do Sodré a Ribamar (Algés) e, de imediato, conquistou os alfacinhas, satisfeitos com este importante melhoramento, com a elegância luxuosa, a comodidade a bordo e a rapidez da marcha. 

Quatro anos depois já toda a, entretanto, alargada rede estava electrificada, adquirindo-se mais eléctricos ‘made in USA’ ou construídos nas oficinas da empresa. Só nos anos 90 do século passado é que surgiram os novos eléctricos articulados, muito maiores e dotados de tecnologia de ponta e elevados níveis de conforto, renovando-se 45 dos eléctricos tradicionais, mantendo-se nestes o respeito pela traça original.

Fotos: Carris



Eu sei… não é o meio de transporte mais confortável, chocalha bastante, é apertado, é um sem número de coisas ‘à moda antiga’, mas também é, por isso mesmo, uma das assinaturas vivas de Portugal e da cidade de Lisboa em particular. Seja nas carreiras, seja nos eléctricos de turismo, de natal ou de base a outras acções, o amarelinho é algo que me conquista! Vá-se lá saber porquê! 

Ah pois!!! É que não sou só eu! A título de curiosidade, associado ao novo conceito de turismo que surgiu recentemente em Portugal – os ‘hostels’ – há um deles em particular que tem no eléctrico, a sua imagem de marca. A identificação do Golden TRAM 242 LISBONne Hostel para com o eléctrico é inegável, não só pela decoração e concepção do espaço, situado em pleno centro histórico lisboeta (na Rua Aurea, a 2 minutos da estação de metro de Baixa/Chiado), como pelas inúmeras imagens que publica no ‘site’e no Facebook.

Fotos: Golden TRAM 242 LISBONne Hostel



Posto isto, se também sofrer desta salutar ‘maleita’ ou se quiser saber mais porque ficou curioso, tem duas hipóteses: ficar em casa e recorrer à cada vez mais viável Wikipedia ou visitando o ‘site’ institucional da Carris ou também, aproveitando o período de férias ou num qualquer fim-de-semana, agendando uma visita ao Museu da Carris, em Alcântara, mesmo por baixo da Ponte 25 de Abril. Não se irá arrepender! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!

José Pinheiro

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito :-) Parabéns por mais fantástico tema.
bj
AR

Anónimo disse...

De nada AR... obg eu pelo comentário
JP