HIPPO-História Divertida


“Saber” pode ser sinónimo de diversão? Resposta: Pode! Caramba, afinal, quando mandamos os nossos filhos estudar “História”, tentando incutir-lhes a ideia de que até pode ser divertido, estamos a contar-lhes a mais pura das verdades! Ainda mais se for numa HIPPOtrip, com a “Lola”, o “Xico” ou a “Alegria”, as três viaturas que esta empresa de animação turística opera em Lisboa, pela Baixa da cidade e rio adentro.





Sugiro-lhes, por isso, esta proposta irrecusável, para fazer em família ou com amigos, algo impossível de se perder! Uma HIPPOtrip tem mesmo de fazer parte dos seus planos, preferencialmente sob bom tempo, ou pelo menos ameno, “tal como são obrigatórios os Pastéis de Belém ou uma viagem no icónico Eléctrico 28 da Carris”, como apregoam os animadores a bordo dos HIPPOs, estranhas e imponentes viaturas, meio barco meio autocarro. 

Confesso que inicialmente estava apenas curioso com o evento. Sabia que se atravessava algumas zonas da cidade, navegando-se depois no Tejo, mas rapidamente a minha tarde e de quem me acompanhou tonou-se muito mais divertida. É que se me iria parecer uma daquelas monumentais secas históricas que, na maioria das vezes se afogam os turistas (estrangeiros ou de ocasião) que visitam a capital, do monumento X à direita e da estátua Y à esquerda, mais uma catrefada de datas e informações que, no final, poucos fixam, o tiro saiu-me pela culatra, a mim e aos 34 companheiros de viagem, das mais diversas origens.




Vimo-nos a bordo da “Lola”, um autêntico teatro sobre rodas, quanto mais não seja pela brilhante actuação do animador Vasco Galhofo, que em boa hora nos saiu na ‘rifa’, num HIPPO sabiamente conduzido no trânsito lisboeta e rio adentro pelo Comandante Pedro Fortuna. A animação, em modo lúdico e teatral, envolve os viajantes, convidados a viver e participar numa experiência inédita a bordo dos HIPPOs, junto com uns quantos e bem gritados a plenos pulmões “HIPPO HIPPOOOOOOOOOOOOOOOO”, intercalados de numa sessão de “Perguntas & Respostas”, quase sempre… com alguma ‘rasteira’! 

Saindo da Doca de Santo Amaro, paredes meias do denominado Viaduto Provisório de Alcântara – era provisório quando foi inaugurado em Março de 1972 e ainda hoje o é – ficámos a saber que as Sete Colinas de Lisboa nasceram não por derivas de placas tectónicas mas pela acção “de uma deusa, Ofiusa, meio serpente/meio mulher, que deixava encantados todos os homens. Isto até ao dia que um tal de Ulisses não lhe deu cavaco, indiferença que a irritou e fez bater violentamente com a cauda na cidade que dominava. Formaram-se as tais sete elevações que distinguem a nossa capital”, explicou o nosso cicerone. Também fiquei a saber porque os portugueses são vistos como um povo que está sempre atrasado. Tem a ver com o relógio que está num dos edifícios contíguos ao Cais do Sodré e que tem a nossa hora oficial. Faça uma HIPPOtrip, que eles completam a explicação com uma curiosidade/mito!






Claro que eu e os meus companheiros de viagem – lusos e estrangeiros, da Alemanha, Noruega, Dinamarca, França e até do Senegal – levámos com o Terramoto de 1755, mas na vertente relacionada com a “Real Barraca da Ajuda”, estrutura de madeira erigida pós-cataclismo na Ajuda e ligada ao então Rei D. José I, apavorado que o tecto lhe voltasse a cair em cima da cabeça. A Rua da Prata serviu para explicar o formato em grelha da reconstruída Baixa Pombalina e no Rossio também se falou de um mito que o incansável Vasco partilhou connosco, em modo bilingue, parecendo viver o passeio como se fosse o primeiro. “Sabiam que a estátua que encima o centro da Praça D. Pedro IV poderá não ser deste rei, mas sim de um imperador mexicano, de seu nome Maximiliano?” As semelhanças são muitas e parece que há escritos que explicam esta alegada troca de identidades… Faça uma HIPPOtrip para descobrir o que por aí consta! 

Seguiram-se detalhes de outro vulto, o Marquês de Pombal, e também do Leão que se vê obrigado a assistir, impotente e lá do alto, às sucessivas celebrações do SLB; falou-se das semelhanças entre o Centro Cultural de Belém e o Novo Museu dos Coches, edifícios que partilham características que envolvem custos, beleza e… janelas; e até o Palácio de Belém tem algo para contar, fruto de uma alegada bandeira verde que sobe e desce, indicando as entradas e saídas do Presidente da República. Sabia que tivemos um líder amigo do bem comer e que, por isso, saía amiúde desta sua morada oficial para ganhar uns quilinhos extra… tantos quanto os que perdiam os pobre-coitados que eram responsáveis pelo constante hastear da dita? Pois, eu também não! 

As lendas e o rigor histórico continuaram a misturam-se com uns laivos de humor teatral até rio adentro, entrando-se no Tejo pela rampa da Doca do Bom Sucesso (em Belém) acompanhada do trecho “Also Sprach Zarathustra” de Richard Strauss, altura em que o autocarro se torna num barco. Há aqui um convite a novo “HIPPO HIPPOOOOOOOOOO…”, só que este sai bastante envergonhado das cordas vocais dos viajantes, que só depois de terem a certeza de que a coisa não mete água, relaxam para apreciar, em perspectivas bem diferentes das habituais, a histórica Torre de São Vicente (ou de Belém), o ímpar Padrão dos Descobrimentos, com o Infante D Henrique ladeado por inúmeros conquistadores, descobridores e velejadores e ainda uma única mulher. Se não sabe quem é suba para bordo de um HIPPO e descubra, tudo isto com uns quantos frescos borrifos do Tejo.




O regresso a terra firme faz-se pelo Centro Náutico de Algés, paredes meias com um já muito popular restaurante mexicano, depois de se navegar frente à bem mais recente e multi-premiada Fundação Champalimaud, edifício onde, entre outras, os seus profissionais se dedicam à investigação na área das neurociências e no combate ao cancro da visão! Para trás ficaram espiões da 2ª Guerra Mundial, “ligados à Estação do Rossio e ao contíguo Hotel Avenida Palace”, a razão porque o Parque Eduardo VII é dedicado a um monarca britânico, as relações linguísticas entre Portugal e o Japão, a “laranja” e Portugal em alguns países árabes e o modo como os tugas terão sido ‘comidos’ pelos bifes – estranha analogia esta!!! – “como paga pela ajuda que estes nos deram aquando das invasões francesas” (uma pista: envolve a zona circundante da Estrela), ou ainda “a Praia Real de Algés, que já teve 7 km de extensão e foi, nesse tempo, a maior de Portugal”. 

O passeio de hora e meia a duas horas, dependendo do trânsito e das marés, é feito a bordo de um veículo anfíbio da americana Cool Amphibious Manufacturers International, num processo que começou a ser desenvolvido em Portugal em 2005 mas que só oito anos depois – sim, só em 2013!!! – teve rodas para andar, ou lemos para navegar, depende da perspectiva!. Porquê? Devido à eterna burocracia das nossas entidades oficiais! 

“Foram necessárias dezenas de licenças, do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (actual DGRM) ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (actual IMT), Administração do Porto de Lisboa, Capitania do Porto de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa (CML) e do Turismo de Portugal, etc,” explicou ao Trendy Wheels o responsável de operações da HIPPOTrip, David Ferreira. “O processo foi muito moroso porque envolvia a comunicação e o aval conjunto de várias delas, sendo sabido que os organismos públicos nacionais demoram eternidades a dar despacho às solicitações. Ao mesmo tempo, iniciámos o processo de aquisição do primeiro veículo em Dezembro de 2008, que baptizámos de ‘Lola’, com que iniciámos, finalmente, a actividade a 3 de Maio de 2013”.

Fotos: José Pinheiro (Trendy Mind) e HIPPOtrip (oficiais)


Dois anos depois “são três os HIPPOs a operar, tendo-se entretanto adquirido o ‘Xico’ e a ‘Alegria’, estando em equação a chegada de uma quarta unidade”, adiantou. Pesam cerca de oito toneladas, apesar do seu casco em alumínio, sendo assente num chassis da Mercedes-Benz. Medem 11 metros de comprimento, 2,5 de largura e 3,6 de altura e têm um calado de 1,3 metros para enfrentar o rio, onde recorrem a uma propulsão a hélice. “Cada um deles pode transportar 37 passageiros, mais um condutor e um animador,” acrescentou. 
David Ferreira destacou ainda o facto de o lançamento destes passeios anfíbios trazer “inúmeros benefícios para a comunidade local, numa actividade pioneira na Península Ibérica. Impulsionamos a indústria do turismo em Lisboa, geramos dividendos para o Estado português, contribuímos para a criação de novos postos de trabalho [nota: eram 10 os funcionários no lançamento do projecto, numero que pode triplicar com a chegada do quarto veículo] e consideramo-nos com um motivo de orgulho para os habitantes da cidade”. 
Por isso, se quiser viver uma experiência histórica inédita, explorando parte das atracções da capital de um modo lúdico, não só em terra, mas também Tejo adentro, faça uma HIPPOtrip. São já mais de 100.000 os que gritaram a plenos pulmões “HIPPO HIPPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO”. Junte-se a eles! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve! 

José Pinheiro 

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

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