A revista Ler deste mês apresenta-nos boas razões para relembrar 2012 citando os 25 livros do ano. Desde a ficção ao ensaio, da poesia à banda desenhada. Deixo-vos os primeiros 10 títulos. Boas Leituras!!
1.º “O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel”, de Mário de Carvalho
«Numa e noutra novela, o escritor explora os vícios humanos num tempo que se adquire como passado mas que, ao contrário de datar, lhes confere antes uma intemporalidade inquietante. […] O Varandim Seguido de Ocaso no Carvangel são duas novelas [que] contêm uma densidade avassaladora que agarra o leitor numa teia da qual só sai, com um sorriso amargo que é o da ironia trágica de Carvalho, no derradeiro ponto final. É o teste da grande literatura: felizes dos que não saem ilesos.» Isabel Lucas, Público
2.º “A Piada Infinita”, de David Foster Wallace
« A Piada Infinita, lançado em 1996, é um romance sobre depressão e várias outras desordens mentais e físicas, sobre família, consumos compulsivos, drogas, indústria do entretenimento, terrorismo e agências de segurança e mil outros subtemas explorados pelo autor com a minúcia de um pesquisador de nanopartículas. [...] Por tudo isto, A Piada Infinita é um desafio ao qual poucos leitores conseguem aceder por completo, mas um feito extraordinário, que ficará na história da literatura.» Filipa Melo, Sol
3.º “O Lago” de Ana Teresa Pereira
«Aos que pudessem achar que a escrita da autora se estava a enredar de modo quase previsível nas suas próprias obsessões, O Lago vem provar que não é exatamente assim. O deserto cresce, confundindo-se com a neve, e a trama deste livro resume-se ao encontro entre um dramaturgo/autor e uma “dançarina ferida” que, ao tornar-se atriz e amante do primeiro, se coloca à mercê de um deus sinistro, alguém que só podia amar “um ser criado para ele” e que “não separa o palco da vida”.» Manuel de Freitas, Atual
4.º “Blankets”, de Craig Thompson
«Ao contar esta história das pequenas brutalidades que os pais infligem a seus filhos e os irmãos uns aos outros, Thompson descreve a agonia e o êxtase da obsessão (por Deus, por um amor) e não teme denunciar os caminhos pelos quais a obsessão consome a si mesmo e evapora-se.» The New York Times Review of Books
5.º “Não é Meia Noite Quem Quer”, de António Lobo Antunes
«Se é verdade que o seu modo de as contar está bem mais perto da “livre associação” freudiana do que da lógica diurna do saber consciente, nem por isso estamos em presença do mero registo fragmentário ou, muito menos, da incontinência verbal. O romancista está em controlo, e a “mão” não está em roda livre. Por muito que ele possa sonhar com a mudez que distingue o “irmão surdo”, uma das personagens que dá vida ao livro. Afinal não é meia noite quem quer.» Ana Cristina Leonardo, Expresso
6.º “Contos Escolhidos”, Isaac Babel
«A obra de Babel cheira a guerra e cavalos, cebolas e arenques, fome e sangue. A escrita fragmentária, paradoxal, na qual a comicidade casa com a crueldade, sai reforçada por associações surpreendentes, incoerências, repetições, construções em elipse. Regada com um humor mordaz e colorido, é uma escrita telúrica (e, nesse sentido, bem russa) que tanto nos horroriza como nos faz soltar gargalhadas.» Margaret Drabble, The Guardian
7.º “Vida no Campo”, de Álvaro Domingues
«Vida no Campo não é uma, são muitas janelas abertas em simultâneo. Perdidos os nexos estáveis que desvendavam o filme-narrativa da realidade do rural, o actual contexto de mudança acelerada está a desmultiplicar até ao infinito as representações sobre a ruralidade: a pos-, a neo-, a des-ruralizacão. A leitura do rural redistribui-se e dissipa-se em múltiplas esferas, ou, então, é condensada e fantasiada numa só. É impossível manter todas estas janelas abertas em simultâneo e daí nasce uma crise de sentido. É difícil reaprender o rural e sobre ele construir novas identidades» Dafne Editora
8.º “A Confissão da Leoa”, de Mia Couto
«Tendo em conta os contornos da narrativa, atravessada por cosmogonias, lendas, crenças e sonhos premonitórios, havia o risco de Mia Couto cair em estereótipos – ou, pior ainda, nas armadilhas do realismo mágico. Felizmente, tal não acontece. Sobretudo, afigura-se subtil e inteligente o modo de empurrar o leitor para o verdadeiro tema deste romance, que não é a caça (essa “alucinada vertigem” que acontece nas “costas da razão”), nem o receio da força bruta animal ou a “gestão das coisas invisíveis”, mas a trágica e “infindável” guerra entre homens que sempre abusaram do seu poder e mulheres educadas para a renúncia.» José Mário Silva, Expresso
9.º “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch” de Aleksandr Soljenítsin
Foi o primeiro romance publicado na União Soviética relatando a vida nos campos de trabalho dos prisioneiros políticos e a repressão estalinista. Nessa altura, em 1962, embora causando grande polémica interna, a obra foi saudada em todo o mundo como símbolo da nova literatura russa e da abertura krutcheviana. Mas em 1974 Soljenítsin viria, depois de expulso da União dos Escritores, a ser detido e deportado. «Pela imensidão do testemunho, o rigor da arquitetura, o fôlego épico, a riqueza da emoção, a força da ironia, Soljenítsin impôs-nos a sua marca.» Georges Nivat, professor e historiador.
«Esta é a mais paradoxal das colectâneas do poeta, porque a questão central da “santidade” aparece muito associada ao “lodo”. A geografia nova-iorquina invade os poemas, Greenwich Village, os parques, o rio Hudson, ou o Chelsea Hotel, convocado como “a última morada de Deus” […] os poemas assemelham-se por vezes a salmos ou hinos, mas com referências contemporâneas, ao cinema de Panahi e às canções de Bonnie “Prince” Billy. Existem em estado de contradição, e tanto defendem que a sabedoria consiste em “nada omitir”, como se baseiam em omissões e elisões.» Pedro Mexia, Expresso
2 comentários:
Só li Blankets, e é imperdível!
Olá Vespinha. Sugiro que leias também "Persépolis", de Marjane Satrapi.
http://www.bertrand.pt/ficha/persepolis?id=12653030
Um retrato excelente da sociedade iraniana e lê-se num fôlego.
Obrigada e boas leituras!
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