Lamentavelmente é esta a realidade! O outrora rico e pujante sector automóvel português, que ao longo de duas décadas reavivou e renovou o parque automóvel nacional, em menos de meia dúzia de anos tornou-se moribundo e vive em longa agonia, quase a balões de soro.
Aos números de quebras nas vendas que no ano passado se assemelharam aos de 1985 – há 27 anos, portanto – sucedem-se os anúncios de despedimentos, ‘layoffs’ e afins, afectando (quase) tudo e (quase) todos: representantes, concessionários, fabricantes, fornecedores, agências, revistas especializadas e demais entidades de algum modo ligadas a esta coisa com rodas que, a seguir à televisão, foi uma das invenções que mudou o mundo, o automóvel. De acordo com as últimas notícias, ao longo de 2012 fecharam 2.500 entidades, desempregando 21.000 pessoas! E infelizmente o novo ano promete não ser mais brando, apesar do conhecido optimismo ‘tuga’, mas que, em face disto tudo nos últimos tempos anda muito por baixo.
A crise internacional, evento que a história demonstra surge ciclicamente de rajada e demora a desaparecer, associada ao (des)governo que por cá popula, atira-nos com notícias que nos tocam muito mais de perto do que no passado, quando apenas ouvíamos que ‘fulano ou sicrano’ tinha ficado desempregado. Agora são os nossos pais, cônjuges, filhos e amigos que se vêem, de repente, nessa muito desconfortável e indesejável situação.
Neste mundo automóvel moribundo, já vários focos de produção desapareceram do mapa nacional, sendo referenciais, como parte intrínseca e importante da nossa história automóvel, as fábricas da Ford (inauguração: Janeiro 1964; fecho: Julho 2000) e da Opel/GM (inauguração: Setembro 1963; fecho: Dezembro 2006). Duas entidades que viviam paredes meias na região ribatejana de Azambuja e que, fruto da sua excelência, viam reconhecida a qualidade dos veículos ali produzidos, interna e externamente, factor que o objectivo da redução de custos de produção não teve em conta ou, se teve, não foi suficiente para elevar a verde os frios e crus números vermelhos das respectivas rentabilidades.
Fotos: Ford Lusitana e General Motors Portugal |
É essa mesma excelência com assinatura nacional que mantém estóica e felizmente vivas a VW AutoEuropa (fabrica automóveis VW e Seat), a Fábrica de Mangualde da PSA Peugeot Citroën (veículos comerciais ligeiros destas marcas francesas), a Mitsubishi Fuso Trucks Europe, a Toyota Caetano e a V. N. Automóveis, cada uma delas a produzir, respectivamente, comerciais ligeiros e pesados das marcas Mitsubishi, Toyota e Isuzu. Em temos de crise e apesar da excelência das suas produções, todas elas recorrem às mais diversas soluções com vista a evitar soluções de despedimentos como as que estão a ser implementadas e/ou preparadas noutros países europeus (vide as mais recentes notícias de despedimentos na Europa e no resto do Mundo…).
Fotos: AutoEuropa, Mitsubishi Fuso Truck Europe, PSA Peugeot Citroën, Toyota Caetano Portugal e Isuzu Portugal |
É inegável o contributo destas produções ‘Made in Portugal’ para os números do Produto Interno Bruto nacional e também para o equilíbrio da nossa Balança Comercial (exportações vs importações). Mas, muito mais do que isso, é por demais importante a sua continuidade para algo que temos em Portugal de enorme mais-valia e que, por razões (des)conhecidas, parece estar a ser transversalmente subvalorizada no nosso país, independentemente do sector económico: a qualidade mão-de-obra nacional! Até quando?
Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve!
José Pinheiro
Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.
2 comentários:
Infelizmente nos tempos que correm valoriza-se acima de tudo o (baixo) custo de produção. A qualidade do produto deixou de ser a principal preocupação.
Não é possivel concorrer com o preço de mão de obra barata de países onde a regras de mercado e concorrenciais não existem.
Onde a mão de obra é tão barata porque os trabalhadores vivem num regime selvagem, sem direitos nem regalias, próximo da escravatura, com milhões de seres humanos a tentar sobreviver.
Um dia se fará s história desta época e veremos que fizemos tudo errado em nome de um capitalismo selvagem e autofágico.
Por agora resta-nos aguentar firme e, sempre que possível escolher produtos de fabrico nacional.
Embora nesta área seja muito complicado fazer esta escolha.
Bom artigo como de costume. A mostrar que o mundo das "rodas" tem pano para mangas.
Olá Gil, boa tarde,
De facto, por cá apenas podemos comprar automóveis nacionais pq são feitos em solo luso, não porque existam marcas automóveis portuguesas... essa também foi uma área que se tentou enraizar mas que se viu aniquilada por diversos factores!
A ver se pego nesse tema dentro em breve.
Obg pelo teu input!
JP
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